Diário de Bordo

Registraremos neste blog relatos diários da Profa Suely Avellar a bordo do NasH Dr. Montenegro, navegando pelo Rio Purus. Boa viagem, Suely!

Desde 1997, o acervo do Projeto Portinari tem servido
como ferramenta para um amplo programa de arte e educação, que já atingiu mais de 500 mil pessoas em todos os estados brasileiros. Para Portinari, o pincel era uma arma a serviço da não violência, da justiça social, da cidadania, da liberdade, do espírito comunitário e da fraternidade. São estes os valores que pulsam na sua obra e que o Projeto Portinari tem levado às crianças e aos jovens de todo o país.

11 de novembro de 2009


Hoje, dia 11, pela manhã, montamos a exposição. Tive a preciosa ajuda de 3 sargentos: Carlos Eduardo, Domingos e Faria. Fiquei impressionada com a dedicação, a delicadeza, a sensibilidade desses 3 homens que estão acostumados a lidar com tarefas mais rudes e que diante da arte de Portinari mostram o seu talento inato para o desempenho de uma tarefa tão delicada como a de organizar e pendurar quadros em uma exposição. Eles próprios sugeriam os locais mais visíveis e mais adequados para cada quadro, mediam os espaços (sem eu ter falado antes sobre a necessidade disto) e os alinhavam. A cada quadro que penduravam, interessavam-se em saber o título, a técnica, onde o original estava, etc. É impressionante como as coisas brotam de dentro das pessoas mais simples. A gente vê o povo ilustrado fazendo curso para montagem de exposição, para iluminação, etc, e com certeza, essa gente não conseguiria fazer esta montagem aqui com tanta desenvoltura, pois não estão preparados para o improviso, para o uso do sentimento acima da técnica e do que está escrito nos manuais.


Enfim, os 3 não se portaram como meros "penduradores de quadros" e sim como pessoas sensíveis e ligadas a nossa cultura. Quando penduramos "Cabeça de Negro", o sargento Domingos observou que aquela obra se parecia com um dos companheiros do navio e foi imediatamente chamar o sargento Devanil, mostrando-lhe sua semelhança com o quadro. Então eu fiz esta foto que está abaixo para a gente ver mais uma vez como a obra e a realidade se tocam e se completam.



Às 13:30h já está marcada a primeira ASHOP (é assim que se chama a assistência aos ribeirinhos). Sairão duas lanchas com os médicos, os dentistas e os enfermeiros. Eu estou escalada para sair na lancha Pirarara. Vamos chegar em uma população com cerca de 20 casas. Estou levando comigo tintas, giz de cera, canetinhas hidrocor e papel para que as crianças desenhem um pouco. Eles não verão a exposição, pois não dá para o navio abarrancar neste povoado. Vou levar alguns exemplares do Menino de Brodosqui comigo para ler alguma coisa para eles e mostrar as imagens do livro.

Até breve!

Um comentário:

  1. Su, adorei tudo que vi no blog, mas este comentário sobre a sensibilidade dos marinheiros foi muito emocionante!
    Só alguém de alma pura e sensível perceberia essas nuances tão singelas na personalidade dos embarcados!
    A arte é realmente atraente e envolvente.
    Super orgulho em ser sua amiga!
    Beijão da Cris.

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