Diário de Bordo

Registraremos neste blog relatos diários da Profa Suely Avellar a bordo do NasH Dr. Montenegro, navegando pelo Rio Purus. Boa viagem, Suely!

Desde 1997, o acervo do Projeto Portinari tem servido
como ferramenta para um amplo programa de arte e educação, que já atingiu mais de 500 mil pessoas em todos os estados brasileiros. Para Portinari, o pincel era uma arma a serviço da não violência, da justiça social, da cidadania, da liberdade, do espírito comunitário e da fraternidade. São estes os valores que pulsam na sua obra e que o Projeto Portinari tem levado às crianças e aos jovens de todo o país.

23 de novembro

Chegamos em Açaituba no dia 23. O atendimento foi feito a bordo, pois o navio estava abarrancado. A comunidade tem cerca de 15 casas. O atendimento se estendeu a outras comunidades vizinhas, localizadas nas proximidades, pois a lancha do navio sai com um dos Cabos para avisar às pessoas que o Navio está abarrancado e que o atendimento médico está disponível para todos os que dele necessitarem.

O menino exibe o seu rio.

As pessoas vão pegando suas canoas, algumas motorizadas, outras só no remo, e começam a chegar. As que não têm condução própria são trazidas na lancha, mas ninguém fica sem o atendimento da Marinha. Há uma espécie de compromisso ético entre todos os tripulantes e equipe médica deste navio de nunca deixarem de acolher os ribeirinhos, entendendo que a oportunidade que essas pessoas estão tendo naquele momento poderá preveni-los de doenças que possam se apresentar depois que o navio já tiver passado e que foram detectadas no momento da consulta e medicadas.


As crianças trabalham no chão, junto da exposição.

Enquanto as crianças aguardam o momento da consulta médica ou dentária, ficam sentadas comigo, no chão do navio, ouvido histórias ou pintando. Essa comunidade tinha muitas crianças e todas interessadas nas atividades de arte.

Visitando a exposição.

As crianças escolhem os personagens que mais as impressionaram.

O jovem professor (de camiseta amarela, no fundo).

As Crianças Ribeirinhas

Olá amigos!

Já estamos voltando para Manaus e fazendo o atendimento das populações que ficam na outra margem do rio. Venho observando atentamente as crianças e jovens adolescentes das comunidades em que estamos parando e noto que elas têm um comportamento bastante diferente das crianças com as quais estou acostumada a conviver nas escolas das cidades. São um pouco tímidas a princípio, mas logo se chegam a mim e então começam a conversar, a ouvir atentamente as minhas histórias de Candinho e a brincar com os dois fantoches – Cocó e Mimi - que trago comigo para incentivá-los a escovar os dentes.

As crianças aqui não têm brinquedos, pois a pobreza em que as famílias vivem não lhes permite tal luxo. Quando acontece de algum navio da Marinha passar trazendo doações de roupas e brinquedos elas tem acesso a esses objetos mágicos. Quando pergunto às meninas se elas têm bonecas, sempre me respondem afirmativamente, mas nunca estão com elas nas mãos e quando lhes peço para trazer as bonecas para eu ver, abaixam a cabeça, envergonhadas. Às vezes vejo os meninos com bolas de futebol, pois esse esporte eles não dispensam. A grande maioria dos meninos é flamenguista e alguns vestem as camisetas surradas do time.

Pergunto sempre se eles gostam de soltar pipas - aqui chamadas de papagaio – quando mostro a reprodução do quadro “ Meninos soltando pipa”. Todos me respondem que sim e eu pergunto como é que eles fazem os papagaios, uma vez que não eles não têm o papel de seda colorido. Então me contam que fazem as varetas com a fibra do buriti e cobrem com as sacolas de plástico que aparecem na comunidade. Fico curiosa em saber se os papagaios voam bem e eles dizem que sim, mas que só podem fazê-los quando há sacos plásticos...

Uma coisa que eu observo sempre é a maneira educada dessas crianças durante todo o tempo em que estão comigo. Falam baixo, são delicadas umas com as outras, atendem às mães logo que elas as chamam para o atendimento médico e nunca vi nenhuma delas brigando.

Levo sempre comigo além das canetinhas hidrocor, dos lápis cera e das tintas guache, lápis grafite e borrachas, pois sei que as escolas são carentes desse material. Na comunidade de Macapá eram muitas crianças e eu não tinha borrachinhas para todas elas - vale dizer que essas borrachinhas são de cores variadas e as crianças ficam encantadas com elas – sem que eu propusesse, um das meninas foi até a sua casa e trouxe uma faca, com a qual cortou as borrachas, dando um pedacinho para cada uma das crianças, solucionando o problema e satisfazendo a todas elas.

Até o momento não vi nenhuma criança brigando para pegar o material da outra e também me ajudam a recolher todo o material na hora em que eu estou me preparando para ir embora. Ninguém pega nada antes que eu diga que o material é para eles e aí é um alegria ! Distribuo tudo e ainda deixo um pouco de tinta e alguns pincéis para eles poderem continuar a pintar.

São poucas as crianças mais bem cuidadas. Em geral estão descalças, com as roupas muito velhas e com os cabelos despenteados, mas assim mesmo, são lindas!

Acho que os meninos são mais vaidosos e vejo que alguns deles descolorem tufos de cabelos com água oxigenada, deixando a cabeça com zonas avermelhadas. Alguns também colocam um produto que se parece com gel e arrepiam os cabelos, à moda dos meninos da cidade. Acho que vêem isso na televisão, pois em algumas comunidades há parabólicas e quando chega o diesel para o gerador conseguem ter eletricidade.

Ainda que tenham que viver com tão poucos bens materiais, vejo que essas crianças são felizes. A natureza lhes propicia o banho morno do rio, as árvores para subirem e se balançarem, os animais para brincarem, integrando-as ao meio em que vivem. É triste ver que elas não têm o devido o respeito dos dirigentes dos municípios aos quais essas comunidades estão ligadas, com respeito à educação e à saúde. As escolas estão em péssimas condições; a maioria delas sem professor regularmente e sem merenda. O atendimento médico é deplorável.

As crianças ribeirinhas são uma lição de vida para nós citadinos, consumistas, querendo sempre mais do que temos. Meninos e meninas que exigem dos pais cada vez mais bens de consumo deveriam ver como se é feliz com tão pouco.

Vejam nesta galeria de fotos como são lindas e felizes estes meninos e meninas ribeirinhos

20 de novembro


A lancha sendo carregada com o material para o atendimento. O Sargento Jean, nosso condutor e o Sargento enfermeiro Costa Rocha já estão nos esperando para o embarque.

Chegamos com a lancha junto a uma senhora que lavava roupa sentada sobre uma prancha larga, na beira do local onde deveria ser comunidade de Fortaleza. O Sargento Jean pergunta para a senhora qual o nome daquela comunidade e ela responde que é Fortaleza, mas que a escola está mesmo na próxima comunidade – Repouso – que está distante cerca de 15 minutos dali. A lancha prossegue até esta comunidade, que fica em cima do barranco. Não há casas flutuantes,como em algumas comunidades. A subida até as casas, como sempre, é aquele sacrifício!

A subida do barranco. Notem que as canoas já estão chegando e atracam no mesmo local da nossa lancha.

O nome da comunidade está escrito na cruz, que também sinaliza a religiosidade dos habitantes.

Logo que a lancha nos deixa aí, o Sargento Jean, sai para avisar aos ribeirinhos das comunidades próximas que os médicos e dentistas da Marinha estarão atendendo na escola de Repouso, e traz alguns que não têm como chegar até o local do atendimento.

Vão surgindo as canoinhas – muitas delas dirigidas pelas crianças. É muito comum a gente ver um menino ou menina de cerca de 7 ou 8 anos conduzindo a canoa, trazendo a mãe com o bebê de colo e outras crianças. O que eles não podem perder é a passagem dos médicos pela localidade, pois possivelmente só terão outra oportunidade de se consultarem no próximo ano.

A escola tem um professor e é bem cuidada. Os médicos e dentistas arrumam os seus espaços de atendimento dentro da sala de aula e na varanda da escola e me é oferecida a sala da casa de uma senhora, ao lado da escola. Isso é muito comum aqui - a hospitalidade. Eles têm sempre prazer em receber a equipe da Marinha em suas casas tão humildes e se sentem importantes quando podem tê-los em casa.

Esta senhora “está lá pra cidade cuidando de seus interesses” conforme me diz o professor e os 3 filhos, já adultos, me conduzem até a sua casa, ajudando a carregar o meu material.

O professor lê a revista Educação em Linha, da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro.

O professor retira da sacola cada um dos livros que lhe oferecemos enquanto eu vou lhe explicando o que trago para ele.

Sempre pergunto qual a crença religiosa dos moradores de cada comunidade e nesta eles me respondem que são todos católicos, mas noto que a comunidade não tem nenhuma igreja, ao que o professor me diz que esta sala grande, onde estão me colocando, funciona como local onde o padre, que vem uma vez por mês, rezar a missa para a comunidade. Observo que no alto das paredes de madeira estão as imagens, impressas, de vários santos – São Cosme e São Damião, Santo Antonio, São Francisco, Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora Aparecida.

As crianças são bastante interessadas e participantes e, ouvem com atenção as histórias de Candinho, para em seguida começarem a desenhar e pintar. As tintas, que são sempre novidade para elas, são o sucesso do momento. Eles querem pintar o tempo todo e eu aviso que ao final da escolinha de arte deixarei as tintas e alguns pincéis para eles continuarem a pintar.



A menina mostra o seu trabalho. Ao fundo as pranchas com as reproduções dos quadros, enfileiradas sobre um banco da casa.


Todos gostam de mostrar o que fizeram.

19 de novembro (tarde)


A Comunidade de Nova Olinda é de acesso tão difícil que a equipe preferiu ficar em uma casa flutuante e trazer a população para ser atendida ali. Os donos da casa imediatamente colocaram a casa disponível para o atendimento médico.

A casa da D.Nazira, que usamos para o atendimento . Atrás da casa pode-se ver a altura do barranco que teríamos que escalar para chegar na escola ou na igreja.

Esta foi a casa ribeirinha mais limpa e organizada que encontramos até este momento. Ela era composta de uma sala de entrada, onde só havia uma estante com uma boa televisão. Do lado direito ficava o quarto do casal e dos filhos e do lado esquerdo, a sala de jantar, com uma mesa para 6 pessoas, cadeiras sólidas, de madeira e a cozinha separada por uma estante aberta, tipo “cozinha americana”. As panelas de alumínio estavam dispostas em uma prateleira sobre a pia e brilhavam. Tinham um bom fogão a gás e uma geladeira nova. Tudo era de um capricho que não se vê nas casas ribeirinhas. A família era composta de marido, mulher e 4 filhos, sendo dois meninos adolescentes e dois menores com 7 e 9 anos. Eram todos muito bem educados e a mulher ficou muito contente quando a Dra. Uryana entrou na cozinha e chamou a mim e a Dra. Danielle para vermos o capricho dela para com as panelas. Fizemos muitos elogios e ela sorria de felicidade.

Dra. Uryana conversa com um dos filhos do casal.

Perguntei-lhe o seu nome e ela me disse que se chamava Nazira. Conversamos sobre a vida ribeirinha, o cuidado com os filhos e a escola local. Eu pedi para chamar o professor para que pudesse lhe oferecer os livros que trago para todos os professores ribeirinhos, e ela me disse que “o professor tava pra cidade resolvendo umas pendências dele, havia 15 dias” e eu perguntei como ficavam as aulas das crianças. Ela respondeu: Não tem aula enquanto ele está fora. Ele costuma se ausentar pelo menos por 20 dias no mês. Vimos observando que esta prática do professor ir “resolver umas pendências” é muito comum naquelas comunidades e soube que isso acontece por que eles assumem o emprego de professor em duas comunidades e ficam dividindo o mês entre as duas escolas. O salário é dobrado, mas as crianças só têm meio mês de aulas.

Chamei as crianças para participarem da “escolinha de arte do Candinho” , que montei na sala de entrada da D.Nazira. Nos sentamos no chão, em torno do bauzinho e das reproduções dos quadros . Noto que as crianças que recebem este ensino “ homeopático” têm muito mais dificuldade de criar do que as das comunidades onde o ensino é fraco, mas regular. Contei as histórias de Candinho, ao mesmo tempo em que pedia que eles também me contassem como eram as suas brincadeiras. Quase todas as crianças tinham muita dificuldade de expressão oral. Pedi que assinassem os desenhos e vi que elas mal sabiam escrever o próprio nome. O sobrenome, então... não tinha como.

Uma adolescente de 15 anos começou, então, a desenhar, com alguma habilidade, frutas variadas, e ia oferecendo os desenhos feitos com lápis grafite, para os menores cobrirem com caneta hidrocor. Quando indagada se aquela era uma prática usada na escola, ela me respondeu que as aulas de arte do tal professor faltoso eram dadas assim também e que era ela quem preparava o material para as crianças colorirem.

O menino exibe as uvas desenhadas pela amiga adolescente e coloridas por ele.

Todos gostam se mostrar o que fizeram.

Os doutores Porto e Picarelli se acomodaram na sala de jantar e examinaram e prescreveram neste local. As dentistas e os enfermeiros preferiram a varanda lateral para as extrações e para a vacinação.

O Cabo enfermeiro Wesley auxilia a Dra. Uryana.

Como sempre faço, ao terminar as atividades, distribui com as crianças o material que eles usaram e recolhi o bauzinho e as reproduções. Neste momento, D.Nazira veio me ajudar a arrumar o material e conversamos mais um pouco. Ela era muito inteirada de tudo da comunidade e percebi também que era uma pessoa muito inteligente, aí eu perguntei por que ela não assumia as aulas das crianças, já que ela era tão interessada. Ela riu e me disse que não poderia fazer isso, pois era analfabeta. Só tinha estudado por dois anos, mas não conseguiu se alfabetizar. É essa a triste realidade ribeirinha...

19 de novembro (manhã)



A comunidade de Boa Fé é composta de casas flutuantes e casas em terra firme.

A subida do barranco é sempre árdua para a equipe, que nem sempre conta com pessoas da comunidade para ajudar a carregar as caixas com o material.


A equipe chegando na escola com o material para atendimento.

Boa Fé é uma comunidade pequena. São cerca de 13 casas. A escola está em estado deplorável. O professor mora em um cômodo junto à escola, com a mulher e dois filhos, com total falta de higiene. Eles fazem as necessidades fisiológicas em um buraco no assoalho da casa e tudo cai diretamente no solo, embaixo da casa, que é suspensa por estacas ,deixando um cheiro insuportável de fezes e urina. Podemos notar que o casal é extremamente desleixado, pois tanto a casa deles quanto a sala de aula estão imundas.

Aí está a escola. À direita fica a sala de aula e na porta do lado esquerdo, a casa do professor e sua família. A escada que conduz à sala de aula está tão estragada que temos que escolher o local melhor para pisar e não cair.

O professor conta que há muitos escorpiões na casa e na escola e para nos mostrar os bichos, começa a levantar uma pilha de livros em um canto da sala, logo surgindo um escorpião negro, que é imediatamente caçado pelo Sargento Enfermeiro Ferro, que o traz conosco. A sala de aula também guarda alguns alimentos, como feijão e farinha.

Esta comunidade pertence ao município de Tapauá e, embora a escola esteja em péssimo estado, as carteiras são todas novas e de muito boa qualidade. Elas fazem parte da barganha que o prefeito fez na época das eleições – cada voto valia uma carteira escolar.

Os médicos e as dentistas preferem fazer o atendimento ao ar livre, longe da escola, por causa da falta de higiene do local. São colocadas carteiras escolares para que eles possam atender as pessoas.

Os doutores Porto e Dias atendendo os pacientes no terreno.

O Cabo Enfermeiro Costa Rocha cuida da vacinação das crianças. Ele pede que as mães tragam as cadernetas de vacinação para conferir se as crianças estão em dia com as vacinas. As que precisam atualizar as vacinas recebem as doses certas. Tudo isso é feito com muita dedicação e carinho. Observo que ele conversa com cada uma das mães sobre a necessidade de estar em dia com as vacinas das crianças, explicando com clareza todos os problemas que podem advir da falta das mesmas.

Eu tive que ficar mesmo dentro da escola, pois não tinha como arrumar o meu material no terreno. A primeira coisa que eu faço quando chegamos é chamar o professor para conversar e entregar-lhe a sacola com os livros. Apresento cada um dos livros, explicando como ele poderá extrair pequenos textos que tratam de Portinari e também mostro os livros didáticos que trouxemos, além da revista Educação em Linha, da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, que nos foi doada pela profa. Elenice, editora da revista, para ser distribuída entre os professores. Junto com este material vai um pôster do quadro “ João Candido com cavalo” para o professor colocar na sala de aula. Estou registrando em vídeo o depoimento do professor ou professora de cada uma das comunidades e as queixas são sempre as mesmas: falta de material escolar, falta de merenda, turmas multi-seriadas.


Portinari na sala de aula.

Depois de conversar com o professor inicio as atividades com as crianças. O bauzinho de Candinho traz sempre uma surpresa para a criançada. Procuro algum lugar para colocar as pranchas com as reproduções e assim apresento Portinari para as crianças ribeirinhas. Ofereço lápis de cor, canetinhas hidrocor, giz de cera, tintas guache e pincéis e distribuo o papel para eles desenharem e pintarem o que desejarem. As crianças gostam muito e fazem vários trabalhinhos. Quando começo a recolher o material as crianças logo pedem para deixar para eles e, é evidente, que deixo tudo o que usamos com eles, pois muitas crianças nunca tinham usado este tipo de material. As tintas são o grande sucesso!


Meninas desenhando.


Este menino lindo e inteligente faz questão de mostrar o seu trabalho.

As crianças desta comunidade estavam muito mal cuidadas. Eram bonitas, pareciam saudáveis, mas não pareciam asseadas. Os cabelos das meninas estavam muito despenteados e embaraçados e todas as crianças estavam descalças.
Fiz questão de fotografar esta menina linda, a criança mais bem cuidada da comunidade, junto com a mãe. Sua roupinha estava muito limpa, ela calçava uma sandália de borracha, limpinha e o cabelo longo, preso em rabo de cavalo estava muito bem cuidado. A mãe parecia também muito asseada. Elogiei muito o cuidado que ela dava a sua filha e ela pareceu ficar muito contente. Falei perto das outras mães, para ver se as minhas palavras serviriam de estímulo para todas.

17 de novembro


A Comunidade de Arimã é pequena. Tem algumas casas, uma igreja e a escola. É surpreendente o número de mulheres grávidas na comunidade: 11 ! O Comandante Gleiber que estava presente, brincou com as mulheres, dizendo que elas, dessa maneira, iriam povoar muito rapidamente a Amazônia!

A escada de madeira que no leva até o alto do barranco está muito bem cuidada e isso facilita a nossa caminhada , da beirada do rio até o topo.

A escola não estava em muito boas condições, mas o professor me mostrou a madeira que ele conseguiu com a prefeitura de Tapuá para reformar a escola e os homens da comunidade iriam se reunir em mutirão para reformá-la.

Aí está a escola.



Este é o estado da sala de aula...

Perguntei-lhe como era a questão da merenda escolar e do material didático para as crianças e ele me respondeu que ele ia todos os meses à Secretaria de Educação de Tapauá buscar a merenda , e que quase sempre conseguia trazer os alimentos para as crianças. Quanto ao material didático, os livros eram dados no início do ano e os cadernos e lápis, quando faltavam, ele ia também buscar. As suas queixas eram : o abandono dos ribeirinhos por parte das autoridades e as classes multi-seriadas. Mais uma vez ouvi que eles contam com os “ navios da esperança” para o atendimento médico da comunidade. Os NasHs da Marinha é que socorrem aquela comunidade.


O Cabo enfermeiro Wesley ajuda a Dra. Danielle a preparar o material para o atendimento.

São dois os professores, pois a comunidade está inscrita no programa do Governo Federal “Re-escrevendo o Futuro” e assim é necessário que haja uma outra pessoa para cobrir este programa. O professor dá as aulas de alfabetização para um grupo de 18 adultos, que recebem uma bolsa de R$ 30,00, a merenda e o material escolar. As aulas são sempre aos sábados. A professora se encarrega das crianças e dos adolescentes

O enfermeiro Costa Rocha vacinando.

Os médicos preferiram atender ao ar livre e eu fiquei na sala de aula. O professor já conhecia Portinari e ficou muito contente ao receber os livros. Ajeitei as pranchas com as reproduções e o bauzinho próximo das crianças e começamos a conversar sobre Candinho, para em seguida distribuir as tintas e pincéis para as crianças brincarem. É também neste momento que aproveito para ajudar às dentistas na conscientização da escovação dos dentes. É a arte ajudando na saúde! As crianças ficam pintando enquanto esperam a vez de serem atendidas pelas dentistas e pelos médicos.

As crianças pintam junto do" bauzinho do pintor" e das reproduções dos quadros.

Os pequeninos também pintam!

Todos gostam dos fantoches.

Quando o enfermeiro ou a dentista vem buscá-las para a consulta , prometem sempre que elas voltarão para a “ escolinha de arte do Candinho”. O prometido é cumprido! Muitas vezes as crianças arrancam um dentinho, mas assim mesmo, voltam, com a gaze tamponando o local da extração, sem chorar, nem sangrar. Acho que o carinho das dentistas e dos enfermeiros ajuda a sarar mais depressa!!

16 de novembro (tarde)

A comunidade de Jatuarama é composta de algumas casas flutuantes e outras no topo do barranco.

Logo que a lancha chegou com a equipe médica, começaram a surgir canoas trazendo adultos e crianças em busca de atendimento. Os ribeirinhos do Purus têm os dentes muito estragados e sofrem muito com dor de dentes, por isso a procura pelo atendimento dentário é grande, e como eles basicamente, só contam com os NasH da Marinha, ficam aliviados quando a equipe chega.

O atendimento foi montado na escola, que está em estado muito precário. Eu procurei o espaço mais próximo da escola e fui para uma casa de farinha desativada, onde forrei o chão de terra com plástico para as crianças se sentarem e colocarem o material para desenhar.


Improvisei uma exposição com as reproduções montadas nas pranchas de mdf, no chão de terra mesmo, encostando-as em uns pedaços de madeira , junto com o bauzinho do pintor e iniciei as atividades contando as histórias de Candinho , do livro O Menino de Brodósqui. O local não poderia ser mais precário! Mas o que vale a pena mesmo é ver a alegria das crianças quando usam as tintas guache, que são um elemento totalmente novo para elas, pois nunca tiveram tal material para brincar. Deixo-as sempre muito a vontade para experimentarem todas as cores e criarem o que quiserem.


A casa de farinha transformada em ateliê.

Esta comunidade tem muitos jovens e um deles se aproximou de nós e pegou a prancha com a reprodução do índio com o cesto de peixes na cabeça. Pediu-me papel e lápis, sentou-se no chão e, colocando a reprodução em frente a ele, começou a copiá-la. Quando terminou de desenhar me disse que era um índio apinagé.

A escola conta com dois professores, pois além do ensino fundamental, tem uma turma de EJA. O professor me contou que as aulas dos jovens e adultos que seriam dadas à noite, ficam prejudicadas por que eles estão sem disel para ligar o gerador e assim não têm luz na escola, e sem luz não podem ter aulas.

A equipe é sempre formada de dois médicos, dois dentistas e três enfermeiros e desta maneira conseguem atender a todos os que procuram assistência médica e dentária

A Dra. Danielle atende a uma jovem com dor de dente.

Deixamos a comunidade após todos terem sidos atendidos e voltamos para o navio em tempo de almoçar, tomar um banho e sair de novo para o atendimento à segunda comunidade do dia.