Diário de Bordo

Registraremos neste blog relatos diários da Profa Suely Avellar a bordo do NasH Dr. Montenegro, navegando pelo Rio Purus. Boa viagem, Suely!

Desde 1997, o acervo do Projeto Portinari tem servido
como ferramenta para um amplo programa de arte e educação, que já atingiu mais de 500 mil pessoas em todos os estados brasileiros. Para Portinari, o pincel era uma arma a serviço da não violência, da justiça social, da cidadania, da liberdade, do espírito comunitário e da fraternidade. São estes os valores que pulsam na sua obra e que o Projeto Portinari tem levado às crianças e aos jovens de todo o país.

5 de Dezembro: Festa de Confraternização

Já estamos navegando no rio Negro, quase chegando a Manaus e a comemoração final agora junta oficiais, praças e equipe médica para festejar o sucesso da Comissão, os aniversariantes do bimestre outubro-novembro e premiar os dois praças eleitos “padrão” por sua dedicação durante este bimestre.

Todos se cumprimentam e uma linda e saborosa mesa de salgadinhos preparada pelos dedicados Sargentos Morais e Júlio, foi-nos oferecida.

Os praças “ padrão” premiados com jantar para duas pessoas em um dos restaurantes de Manaus, foram:

O Sargento Almeida, o sábio dos nós de marinharia e o Marinheiro Everton José, que faz o pão francês mais gostoso que eu já comi!

Até o Acre, em 2010, pessoal!!!

Galeria de fotos da festa de despedida:

Comte Gleiber e Imediato Geizon, de pé, brincam com o pessoal de bordo.

CB enf. Cláudio e TN Costa Bueno.

Marinheiro Everton José agradece o título de marinheiro padrão. Junto a esta foto, segue uma outra dos pãezinhos franceses que ela fazia todos os dias para o nosso café da manhã e para a ceia. O meu camarote ficava próximo da Praça D´Armas e eu era acordada pelo cheiro maravilhoso dos seus pães. Que delícias, os pães franceses mais gostosos que eu já comi!
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SG Alberto Almeida recebendo o prêmio. Este sargento faz caprichosos trabalhos com os nós de marinheiro. Acompanhei o seu trabalho para uma peça que ele estava preparando para um concurso de trabalhos artísticos com temática de Marinha, como vocês podem ver na foto seguinte.

4 de Dezembro: Jantarex


Olá amigos! Aqui estou eu de novo , após alguns dias sem comunicação, pois quando navegamos ficamos sem sinal de internet.

Estamos na véspera de desembarcar. Hoje é um dia de festa a bordo. Vamos ter o jantar de confraternização conhecido na linguagem de Marinha, como Jantarex! É quando o Comandante saúda e agradece à equipe médica e aos oficiais de bordo. Fizemos brindes, homenagens e eu agradeci a todos pelo carinho com que fui recebida pela jovem equipe médica e pelos oficiais.

Comandante Gleiber agradece aos que cuidaram da nossa alimentação a bordo. De pé, recebendo as carinhosas palavras do comandante : SG Julio, SG Amaral, SG Morais e SG Claudio. O SG Julio é um excelente chef de cuisine e nos brindava com sobremesas deliciosas, auxiliando o SG Morais na cozinha. Os SGs Amaral e Duarte cuidavam da copa.

Guardei comigo as duas camisetas do Projeto Portinari que eu dava para as crianças limparem os pincéis durante as atividades e lembrei-me de oferecer para o Comandante Gleiber e seu Imediato, Tenente Geizon, as duas peças, simbolizando a nossa participação na Comissão.

Falando sobre a admiração que eu sentia por toda aquela equipe ali reunida, pedi que déssemos à Comissão o sub-título de “ Muito além do Amor” – título do livro do jornalista francês Dominique Lapierre, que conta a dedicação de um grupo de médicos, que se entregam com amor a sua missão. Esse título foi, por mim, escrito nas camisetas e todos colocaram seus autógrafos nelas, no momento da oferta das duas.

Ten.MD Martins e Ten.CD Uryana autografando as camisetas do Projeto Portinari.

Fiquei surpresa e emocionada ao receber do Comandante Gleiber três lindos presentes: a camiseta com o brasão do navio, o livro Poder Naval- a Marinha do Brasil, com uma carinhosa dedicatória e uma linda escultura feita a bordo, pelos mestres carpinteiros, com um pedaço da raiz do tronco içado da água, durante a viagem!

Suely recebendo os presentes das mãos do Comandante Gleiber.

Suely recebe, emocionada, das mãos do Comandante a escultura criada pelos mestres de bordo, com um pedaço de raiz do tronco içado das águas. Linda!!!!

Suely agradece ao comandante por ter permitido a participação do Projeto Portinari a bordo do seu navio.

Um brinde ao Navio da Esperança e a todos os seus tripulantes.

Despedida da tripulação

Chegamos ao final dessa “missão do bem” realizada pela Marinha Brasileira nas comunidades ribeirinhas do Purus, quando pude ter o prazer de conviver com pessoas que me orgulham de ser brasileira.

Durante todo este mês em que estive com essas pessoas não vi em nenhum momento qualquer fisionomia triste ou de mau humor. Todo o tempo cruzei com homens dedicados ao seu trabalho, conscientes da importância da sua participação naquela Comissão Purus A, desde o mais graduado ao mais simples marinheiro. Parece que todos estão movidos por um só pensamento – o de fazer o bem àquelas pessoas tão carentes.

Sinto-me orgulhosa de ter contribuído, também, levando Portinari, integrando saúde e arte, durante todo o tempo das ASSHOPs (atendimento aos ribeirinhos).

Maestro e orquestra quando têm um desempenho brilhante recebem da platéia um caloroso Bravo! E eu quero também saudar esta afinada “orquestra” do Navio da Esperança NasH Dr.Montenegro abaixo relacionada, sob a batuta do nosso Comandante Gleiber.

com a minha admiração : BRAVO! BRAVO! BRAVO!

Oficiais e Praças:

CC GLEIBER – Comandante do navio

CT GEIZON GOMES – Imediato em exercício

CT RAMON

1º Ten COSTA BUENO

1ºTen EDGAR

1ºTen ABNER

2ºTen NADAL

1ºSG-ES LUCAS

1ºSG-CO DOMINGOS

1º.SG-MO ASSUNÇÃO

1º.SG-AR AMARAL JUNIOR

2º.SG-CN RICARDO

2º.SG-EL REGO

2º.SG-SI AFONSO

2º.SG-CO MORAIS

2ºSG-MR CARLOS EDUARDO

2ºSG-ET WASHINGTON

2ºSG-MO MORAES

2ºSG-MOFERNANDES

2ºSG-CO PESSOA

3ºSG-CI LUIZ

3ºSG-MT FARIA

3ºSG-EF MAGNUS

3ºSG-HN CELSO

3ºSG-MO JEAN

3ºSG-CN CRISÓSTOMO

3ºSG-AR FIGUEIREDO

3ºSG-MR ALMEIDA

CB-EF CLAUDIO

CB-ES-SB EUDEMIR

CB-BA ELIAS

CB-EF COSTA ROCHA

CB-ET MARCOS

CB-MC BRAINER

CB-AR PETERSON

CB-MR DOMINGOS

CB-EF WESLEY

MN-QPA MARCELO

MN-QPA EVERTON JOSÉ

MN-QPA FARIAS

1ºSG-CP AMARAL

2ºSG FN MO A. SANTANA

2ºSG FN ES LEAL

2ºSG-AR CLAUDIO

3ºSG FN EF DEVANIL

2ºSG-FN-EF FERRO

3ºSG-AR JULIO

3ºSG-ET-MEC ALEX

3°SG-PL MARCO ANTONIO

CB-MG PEDRO

CB-MR ALEX

SD FN DA SILVA

SD FN NUNES

SD FN BARRETO

SD FN WANDERLEY

A equipe médica:

2ºTEN MD PORTO

2ºTEN MD DIAS

2ºTEN MD PICARRELLI

2ºTEN MD SCHMITZ

2º TEN MD MARTINS

1º TEN CD ABTIBOL

1º TEN CD LOIANE

1º TEN CD URYANA

1º TEN CD DANELLE DALMASO

1º TEN S CAVALCANTI

E para que as imagens dessa valorosa equipe fiquem também registradas, aí estão as fotos que fiz de alguns desses protagonistas. Desculpem-me se não estão incluídos todos, como eu gostaria, mas a chamada “faina de bordo” nem sempre me permitia fotografá-los. Fiquem certos de que a fisionomia de cada um de vocês estará sempre em minha lembrança, queridos novos amigos!!!

3°SG-PL MARCO ANTONIO

CB-EF WESLEY

Quero deixar um agradecimento especial a essas quatro pessoas que aí estão: os sargentos Figueiredo, Amaral e Cláudio e o cabo Peterson. Os quatro eram os nossos "anjos da guarda" durante toda a viagem, cuidando do atendimento às nossas refeições e da limpeza dos camarotes. Fui tratada por eles como uma rainha!

CB-EF CLAUDIO

3ºSG-AR FIGUEIREDO e 1ºSG-CP AMARAL

3ºSG-CI LUIZ e 2ºSG FN MO A. SANTANA

2ºSG-MO FERNANDES

2º.SG-CO MORAIS

2ºTen NADAL e 1ºSG-CO DOMINGOS

1ºSG-ES LUCAS

CT RAMON

1º Ten COSTA BUENO

CC GLEIBER – Comandante do navio

27 de novembro

O navio estava fundeado próximo de Tambaquizinho, quando chega um barco com cerca de 20 pessoas pedindo atendimento médico. O comandante prontamente concordou com este atendimento inesperado e pediu que os médicos descessem para os consultórios. Eu desci também com o meu bauzinho, pincéis, tintas etc para trabalhar com as crianças. Eram 8 crianças muito vivas e logo se interessaram pelo meu bauzinho.

Trabalhamos bastante e ao final pedi que elas posassem para mim junto à exposição. A avó da maioria das crianças era a líder comunitária. Uma senhora muito simpática e articulada , que me contou que alguém da comunidade a avisou que o navio estava fundeado por ali e ela então movimentou as pessoas e pegaram o barco de um de seus filhos, viajaram durante 4 horas até chegarem onde estávamos. Quando ela me contou isso, eu vi como é imprescindível este serviço prestado pelos “navios da esperança” para as populações ribeirinhas.

De volta ao barco após o atenimento para enfrentarem mais 4 horas de viagem.

26 de novembro (tarde)

Já estamos quase no final dessa viagem em que apresentamos o nosso Portinari para as crianças ribeirinhas do rio Purus. O aprendizado que tive foi imenso – gente pobre, solidários uns com os outros, dividindo o pouco que possuem; crianças meigas, bem educadas, que se contentam e são felizes com tão pouco. Não vi em nenhum momento um brinquedo nas mãos dessas crianças, mas vi a facilidade com que seguram um pincel e criam aquele seu rio de verdade, em tintas, sobre o papel que eu lhes dou. Quando lhes pergunto, brincando, se querem ir para a cidade grande comigo, respondem sorrindo que não! Quando eu pergunto por que não gostariam de ir comigo eles respondem que ali é muito bom! São os verdadeiros meninos e meninas do rio doce...Os ribeirinhos, na sua grande maioria, não têm a ambição da mudança para a cidade grande. Pescam, criam galinhas e porcos, plantam mandioca, melancia e feijão para sobreviverem e o resto do tempo descansam...

Dr. Martins e Cabo Costa Rocha.

Macapá é uma comunidade pequena com algumas casas no topo do barranco e outras nos flutuantes. Ela não estava incluída no roteiro do navio, mas quando descíamos o rio, o comandante viu um flutuante com a faixa da Marinha e achou curioso aquela faixa naquele lugar. Fundeou o navio mais adiante e mandou a lancha com um sargento para investigar e o sargento trouxe de volta o pedido do líder da comunidade, que tendo visto o navio de longe, resolveu amarrar a faixa que tinha sido esquecida lá pelo NasH Oswaldo Cruz em 2008, para chamar a atenção e assim ter o atendimento do nosso navio. O comandante prontamente atendeu o pedido, continuou fundeado e a equipe partiu imediatamente na lancha para atendê-los.

Esta é a comunidade que vemos da lancha.

O líder comunitário era um senhor falante e foi logo se prontificando a ajeitar o melhor possível o espaço dos médicos, que se colocaram na sala de aula da escola e eu fui convidada por este senhor a levar as crianças para a casa da família dele. A sala era muito pequena, mas bem arrumadinha, com sofá, estante e televisão. Achei melhor ficar na varanda para não desarrumar a casa deles.

O lider comunitáeio cumprimenta o Dr.Porto.

As crianças eram muito vivas, sem inibição alguma, falantes e rapidamente foram pegando o material que eu trazia comigo e desenhando e pintando com a maior desenvoltura. É interessante notar que embora todas as crianças gostem das atividades que eu trago, em algumas comunidades elas parecem mais familiarizadas com o material e se põe logo a pintar. Não sei se isso acontece aleatoriamente, ou se são estimuladas pelos professores. Todos os professores me dizem que artes é uma das disciplinas do curriculum e eu vejo em quase todas as escolas em que estivemos a tradicional cordinha com os desenhos das crianças pregados, mas são trabalhos sem nenhuma criatividade. Os professores ainda reproduzem figuras padronizadas de personagens de desenho animado para as crianças apenas colorirem. É uma pena matarem a criatividade das crianças, pois quando lhes dou o papel e as deixo bem à vontade, criam coisas lindas!

As crianças transitam tranquilamente no deck da escola na beira do rio.

Logo surgiu um jovenzinho com o violão e eu pedi que ele tocasse alguma música para eu cantar com as crianças , mas ele respondeu que só sabia cantar as músicas da igreja. Ficou todo o tempo sentando na grade de madeira da varanda, dedilhando o violão.




Os professores nesta comunidade são dois rapazes, bastante simpáticos e logo vieram conversar comigo. Entreguei-lhes o material, explicando o que lhes estava trazendo e os dois agradeceram muito, dizendo o mesmo que todos os outros já haviam dito sobre as dificuldades dos professores ribeirinhos.


Os dois professores com o material que lhes dei.



O Cabo enfermeiro Luciano termina a vacinação e vem brincar conosco.

26 de novembro (manhã)

Hoje, dia 26 de novembro, o atendimento começou pela comunidade de Membeca. Diferentemente das outras comunidades que visitamos, as casas ficam bem para dentro do barranco, e atravessamos um pequeno bosque até chegarmos na escola onde foi montada a estrutura para o atendimento.


Curiosamente, esta é primeira escola de alvenaria até agora.


A comunidade é bem organizada, tem casas mais amplas e um agente de saúde bastante atuante. Coloquei o meu material em uma espécie de varanda lateral, coberta, com o chão forrado de ladrilhos – coisa difícil de se ver por aqui – e iniciamos as atividades.

A comunidade é mais organizada e assim eles conseguem buscar o diesel direto em Tapauá e podem ter eletricidade. Muitas casas têm antena parabólica como esta.

Logo chegaram muitas crianças e uma senhora muito simpática se aproximou com as netinhas e a bisneta e eu a convidei para participar. Vovó Raimunda se acocorou, com agilidade, no chão junto das crianças e começou a pintar com muita desenvoltura.

Fui puxando conversa com ela e perguntei-lhe se vivia ali há muito tempo, ao que ela me respondeu que fazia trinta e três anos que tinha se mudado para esta comunidade. Tinha doze filhos, vinte e sete netos e uma bisneta. Perguntei-lhe também como era viver assim em uma comunidade isolada e ela me respondeu que era bom demais!

Vejam na galeria de fotos como é bonita esta comunidade.



É linda a vista do rio, do alto de Membeca !


Equipe Médica: anjos do Navio da Esperança


Olá amigos que estão acompanhando esta minha linda experiência pelo Purus, no NasH Dr.Montenegro!

Os três navios que fazem o atendimento médico às populações ribeirinhas da Amazônia – Carlos Chagas, Oswaldo Cruz e Dr.Montenegro – são conhecidos como Navios da Esperança, pois são muitas vezes a única esperança de sobrevivência das pessoas enfermas nesta região. A gente só consegue mesmo entender este título quando embarca em um deles e assiste o trabalho dessas pessoas, como eu estou tendo o privilégio neste momento.

A equipe médica é composta de 5 médicos, 4 dentistas e um farmacêutico. São todos jovens recém formados. O Tenente Dr. Porto me explicou que as Forças Armadas, visitam as faculdades públicas de Medicina, Odontologia, Farmácia e Veterinária e fazem palestras para os alunos do sexto ano, convidando-os para o ingresso nos Corpos Médicos da Marinha, da Aeronáutica e do Exército. No caso da Marinha, são escolhidos os voluntários que conseguem os melhores resultados na prova comprobatória de competência e que possuem os melhores currículos. Os profissionais que escolhem servir em Manaus, fazem um curso de adaptação para a Marinha, no Batalhão de Operações Ribeirinhas durante 1 mês, como Guardas-Marinha. Após este período recebem a patente de 2º Tenente e os que desejarem renovar o contrato vão a 1º. Tenente. Podem permanecer na Marinha nesta condição durante 8 anos e após este período, se desejarem, prestam concurso para o ingresso permanente.

Os enfermeiros descendo o barranco carregando a canastra.

Estou-lhes detalhando este processo de ingresso para que possam compreender melhor o trabalho da equipe que participa desta Comissão.

O grupo é formado pelos seguintes profissionais:

2º. Tenente Dr.Raphael Porto (médico de bordo)

2º. Tenente Dr. Gabriel Picarelli

2º. Tenente Dr. Kurt Schmitz

2º. Tenente Dr. Cassius Martins

2º. Tenente Dr. Leandro Dias

1º. Tenente Dentista Daniel Abtibol

1ª. Tenente Dentista Danielle Dalmasio

1ª. Tenente Dentista Loane

1ª. Tenente Dentista Uryane

Dra. Uryana dando uma atenção especial à velhinha.

No caso dos enfermeiros, já é diferente, pois eles já pertencem à Marinha. São pessoas fantásticas! Também fazem parte do grupo de anjos da guarda. Dão todo o suporte aos médicos e dentistas e cuidam da vacinação. Quando chegam junto às crianças, as seguram no colo, tratando-as com carinho. Este grupo é composto por:

3º. Sargento EF Magnus ( supervisor da Divisão de Saúde)

2º. Sargento FN EF Ferro

3º. Sargento FN EF Devanil

Cabo EF Wesley

Cabo EF Luciano Costa Rocha

Cabo EF Cláudio

O Sargento Magnus também faz as palestras sobre escovação dos dentes para as crianças, nas escolas. Nunca vi coisa mais didática e divertida ao mesmo tempo ! Ele consegue que a garotada preste atenção e interaja com ele o tempo todo. O magistério está perdendo um grande professor...

O Sargento Ferro é especialista em bebês! Em cada comunidade que chega já vai logo pegando um bebê no colo. O mais incrível é que essas crianças nunca o viram e não estranham aquele “cara” vestido de roupa estranha. Seus lindos olhos verdes e o sorriso amigo são as portas abertas para esta aceitação imediata.

O Sargento Devanil é grandão e chega sempre brincando com a criançada. Cada criança que recebe a dose da vacina ganha um balão de ar, branco, onde o Sargento se encarrega logo de desenhar uma cara divertida. As crianças adoram!

O Cabo Costa Rocha tem um cuidado enorme com a caixa climatizada das vacinas. Sai da lancha carregando-a com atenção para que a temperatura esteja sempre mantida corretamente. Ele confere com as mães as cadernetas de vacinação e aplica as doses quando necessárias. Uma particularidade do Costa Rocha é que ele faz o percurso dentro da lancha, sempre lendo um livro. Quando iniciamos a viagem ele lia “ Homens fazem sexo, mulheres fazem amor” e agora está lendo “ O caçador de pipas”.

O Cabo Wesley é caladão e eficiente. Dá um suporte grande às dentistas, ajudando no atendimento às crianças . O Cabo Cláudio sempre vai na lancha Candiru e eu não tive oportunidade de ver a sua atuação, mas tenho certeza que é tão boa quanto a do resto da equipe, pois afinal de contas ele faz parte do grupo de “ anjos da guarda” !

É com este grupo de “anjos da guarda dos ribeirinhos” que eu tenho o prazer de sair diariamente na lancha, acompanhando-os com as atividades artísticas da “Escolinha de Arte do Candinho”, nas comunidades.

Vocês não podem imaginar como é gratificante observar o cuidado que esses jovens têm com cada uma dessas pessoas humildes a quem atendem. Eles escutam as queixas dos velhinhos e velhinhas com muita atenção, conversam com as mães sobre os cuidados com as crianças, falam para os jovens a atenção que deve merecer o sexo com preservativo e assim vão de comunidade em comunidade se doando, mostrando como deve ser praticado o verdadeiro amor ao próximo. É uma juventude que nos dá orgulho!

Costumo chamar as dentistas de “ fadinhas”. Elas conseguem realizar os procedimentos necessários a cada uma das pessoas com mãos de seda, mãos de fadas. As crianças saem do atendimento e se sentam no chão , junto do grupinho para continuar a pintar, como se nada tivesse acontecido. A delicadeza das dentistas e o carinho com as crianças ajuda a sarar mais depressa!

Dentro do navio fica o farmacêutico, Tenente Cavalcanti, sempre alerta para a demanda de exames solicitados pelos doutores que estão atendendo na comunidade. A pessoa que necessita fazer algum exame laboratorial é conduzida de lancha até o navio, atendida pelo tenente Cavalcanti e fica aguardando até o exame ficar pronto e ser conduzida de volta à comunidade para que o médico diagnostique com segurança.

No final do dia todos voltam para o navio, exaustos, mais muito felizes por terem prestado este serviço humanitário a essa população tão desrespeitada por nossas autoridades. As conversas na praça d´armas ( é o nome que se dá na Marinha para o refeitório/sala de estar do navio) são sempre contando, com entusiasmo; os casos mais complicados que conseguiram atender e o quanto eles aliviaram as pessoas. É enriquecedor para qualquer pessoa assistir essa moçada conversando!

Como é bom a gente saber que ainda há gente que pensa nos humildes!!